Eros e Psique
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
4 comentários:
Oi Mari. Final surpreendente. Adorei. Beijos e obrigada sempre por sua amizade.
Ha! Fernado Pessoa, Que palavras lindas, que encanto de canto, este seu.
Mari, vim através do blog da Maria José, pessoa especial e maravilhosa.
Aprendo todos os dias, a cada passeio pelos blogs afins, e com certeza voltarei mais vezes.
Abraços.
Passei muitoooooooo tempo dormindo, deixei de viver muita coisa, hoje quero ficar sempre acordade atenta.
Viva Pessoa e sua sabedoria.
beijo Mari!!!
Mari , eu sei que é uma questão de gosto , mas já pus na balança Drummond e Pessoa. Empatei os dois como os melhores poetas que esse mundo já criou. Eu tenho uma coleção da ed. Nova Aguillar chamada Obra Completa e entre todos eu fiquei nesse dilema delicioso.rsrs. Abração. paz e bem.
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